Aproveitei o feriado do Natal para dar uma volta por Riverview e rever os locais que eu mais gostava de ficar quando era criança. Como já falei em outra ocasião, as pontes sempre exerceram uma atração muito grande sobre mim, e River, tal como Twinbrook, era cheia delas. Eu amava ir até uma ponte e ficar observando o movimento das águas, ou então, descer e me refugiar em um lugarzinho seco lá embaixo.
Aquela volta a minha cidade natal estava me proporcionando um reencontro comigo mesma. Eu estava muito feliz naquele final de ano e com muita esperança de que o ano novo representaria uma vida renovada para mim.
Quando estava retornando de meu passeio matinal, o que já havia virado um hábito desde a minha temporada em Twinbrook, ouvi alguém que tentava me alcançar chamando pelo meu nome. Era o Jhonata.
Jhonata - Olá, tudo bem? Como está nesta manhã de feriado de natal? Espero que não esteja tão apressado como da última vez...
Chris - Oi Jhonata...Fui dar uma volta na ponte do rio da enseada...Tá tudo bem sim. E vc?
Jhonata - Eu estou voltando para casa. Havia esquecido que hoje é feriado nacional e resolvi ir ao banco. Vc continua fissurada em pontes, não é?
Chris - Vc lembra disso? Mas como? Não lembro de ter comentado isso com vc.
Jhonata - E precisava? Está esquecida das fofoqueiras de plantão? Todo mundo sabia que quando vc estava triste, corria pra se esconder debaixo das pontes.
Enquanto estávamos conversando, seu telefone tocou umas três vezes e pelo tom da conversa parecia ser as piriguetes da cidade. Parecia que ele continuava sendo o homem mais cobiçado de River.
Chris - Bem...Eu preciso ir andando pois o pessoal está me esperando para o almoço...
Jhonata - Já sei. Mamãe não gosta que vc se atrase, não é?
Chris - Nada disso,engraçadinho!Não sou mais criança,sabia? Eu é que não gosto de me atrasar para nada.
Jhonata - É...Tou vendo que vc mudou muito mesmo.
Aproveitei a deixa para perguntar sobre ele:
Chris - E vc? Ainda continua sendo o galã da cidade?
Jhonata - Que nada! Não sou mais aquele garotão,não. A idade não me permite mais certos excessos.
Chris - A julgar pelo número de telefonemas que vc recebeu em menos de cinco minutos, penso que isso não é verdade.
Jhonata - São apenas telefonemas; nada de concreto.
Chris - Sei...
Jhonata - Bem, estamos bem em frente a minha humilde casa. Não quer entrar para um cafezinho?
Acabei aceitando o convite e passando o resto do dia por lá. Tomei café, almocei, comi sobremesa e aproveitei para conversar e saber tudo da vida de Jhonata, ou pelo menos tudo que ele quis contar.
Chris - Então quer dizer que vc nunca se casou?
Jhonata - Não. Acho que não encontrei a pessoa certa, ou então porque não nasci para me amarrar em ninguém.
Chris - Penso que a segunda hipótese é a mais provável, né não?
Jhonata - Pode ser...
Jhonata - E vc? O que fez da sua vida sentimental?
Chris - Muito pouca coisa; sempre fui muito devagar nessa área, rsrsrsrs...
Jhonata - Bem..Nunca é tarde para começar, né? Se precisar de uma mãozinha,kkkkkkk...
Chris - Não, obrigada. Não estou a perigo!
Jhonata - É, realmente eu agora tou lembrado que vc sempre foi muito indiferente a essa questão de relacionamento, namoro... Não lembro de ter visto vc com alguém quando éramos adolescentes. Vc foi a única garota que nunca demonstrou interesse por mim.
A conversa estava tomando um rumo que não estava me agradando. Então subitamente levantei:
Chris - Jhonata, agora preciso ir mesmo. Passei o dia todo aqui e o povo lá me casa já deve estar preocupado.
Jhonata - Se dona Marina souber que vc passou a tarde toda na casa de um homem, não vai gostar não é?Chris - Não tem nada a ver com a minha mãe! Que mania a sua de querer me irritar!
Jhonata - Não precisa se irritar, não! Desculpe. Mas deixe fazer uma pergunta antes que vc vá embora correndo pra devaixo da ponte. Brincadeirinha...Rsrsrs...Então...Essa estampa aí em sua camiseta é o mote para o próximo ano? Paz, amor, esperança...?
Ao fazer essa pergunta ele me pegou de surpresa pois eu nem havia atentado para o que estava escrito na camiseta quando a peguei no fundo da mala e vesti.
Chris - Penso que é o que todo mundo espera, não é não?
Jhonata - Ah sim, tem razão. E qual dessas três coisas aí vc pretende?
Chris - Todas, como todo mundo.
Jhonata - Eu não perguntei o que todo mundo deseja; eu perguntei o
que vc deseja. Dá pra ser direta, ou seja, dá para falar o que vc deseja
pra sua vida?
Chris
- Bem...Eu já consegui um natal de muita paz lá em casa, e ainda
tenho esperança que minha vida continue mudando muito no próximo ano...
Jhonata - E amor...? Não lhe interessa?
Chris - Não acredito nessa coisa de amor romântico; o amor de minha família já me basta.
Jhonata - Pois eu não vivo sem estar envolvido com o
amor, seja esse amor romântico aí a que vc se refere, ao amor no sentido
mais físico, vc entende, né? E já que vc está aqui agora em minha
frente e eu não corro mais o risco de ser denunciado na delegacia por
dona Marina, acusado de sedução de menor, vou confessar uma coisa. E não
adianta querer sair correndo pois eu te agarro e só largo depois que vc
ouvir, entendeu?
Nem que eu quisesse sair correndo eu poderia, pois
minhas pernas tremiam mais que vara de bambu e meu coração só faltava
pular pela boca. O fato de ter o único cara por quem eu fui apaixonada
na época da adolescência tão perto daquele jeito me deixou desnorteada.
Jhonata - Eu sempre tive uma atração enorme por vc; achava super excitante aquele seu jeito recatado. Pena que vc nunca me deu a oportunidade de roubar pelo menos um beijo. Inclusive acho que foi por isso, pelo fato de vc ser a única que não me dava bola, que me deixava tão fissurado.
Chris - Bem,eu...eu não sei o que dizer...Nunca pensei que vc pudesse ter tido algum interesse por mim...
Jhonata - E se eu confessar que quando te vi lá na praça constatei que o interesse renasceu, vc vai me dar uma bofetada?
Se aquela cena tivesse ocorrido há uns tempos atrás, com certeza ele ficaria com o rosto vermelho do tapa que eu lhe daria, mas como estava decidida a deixar a velha Chris no passado, não respondi nada, quer dizer, não respondi de forma convencional.
Jhonata - A quem devo agradecer por sua mudança?
Chris - À vida. Aprendi que a vida é um processo que está em constante mudança. E aproveitando, vou confessar uma coisa também.
Jhonata - Só espero que não vá me dizer que resolveu adotar a castidade como regra de vida,rsrsrsrs...
Chris - Não, nada disso. Apesar de já ter pensando nessa possibilidade,rsrsrsrs. Quero dizer que sempre fui apaixonada por vc, quer dizer, apaixonada na época de adolescência.
Jhonata - Então vou me empenhar para que vc se apaixone por mim outra vez. Janta comigo hoje?
Chris - Mas eu passei praticamente o dia todo aqui...
Jhonata - Vamos, aceite. Quero te levar pra sair; quero recuperar o tempo perdido. Quero propor que façamos agora o que não fizemos no passado.